“O poder público e os empresários precisam se unir em prol da cidade”, diz secretária de desenvolvimento

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A secretaria Mila Paes está à frente da pasta de Desenvolvimento Econômico de Salvador, com o enorme desafio de contribuir com a geração de emprego e renda e fortalecer o setor produtivo da cidade. Nessa entrevista exclusiva ao A TARDE, Mila Paes diz que é preciso atrair novos negócios para Salvador e “diversificar sua matriz econômica”. Para ela, uma das principais demandas do mercado hoje é por mão de obra capacitada. “Trocamos as horas de experiência por horas de capacitação para atender ao empresário”, diz ela, ao falar do novo projeto do município que prepara profissionais para atender a demandas específicas do mercado. E arremata: “O poder público e os empresários precisam se unir em prol da transformação da cidade”. Confira:

Secretária, a senhora está à frente de uma pasta estratégica do governo Bruno Reis. Como avalia o começo do trabalho na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e qual o diagnóstico faz hoje da cidade?

De antemão, agradeço o convite para participar dessa entrevista. O que eu posso dizer sobre a avaliação dessa primeira etapa do nosso trabalho? O principal é que a gente passou por um período muito difícil, atropelado entre o início de gestão, tomando pé, como a gente diz, dos desafios e, ao mesmo tempo, tendo que nos aproximar muito dos setores econômicos por conta da pandemia. E a secretaria ficou à frente do planejamento da retomada dos setores, da abertura econômica da cidade, pós segunda fase da pandemia. A primeira etapa da gestão foi bem desafiadora. A gente precisava se estruturar como secretaria, planejar os próximos quatro anos e, ao mesmo tempo, se aproximar dos setores econômicos para entender as dificuldades, para pensar programas e políticas públicas que fossem mais assertivas para aqueles setores. E também, no dia a dia, discutir os protocolos de retomada, ouvir os setores para ver o que fazia sentido, como a gente poderia retomar as atividades econômicas de uma maneira segura nessa etapa de pós-pandemia.

A pandemia agravou mais ainda o problema do desemprego em Salvador. Diante do cenário atual, o que tem sido feito pela gestão para modificar essa realidade?

Com certeza. A gente vem num processo de muita dificuldade. A gente passou por uma fase muito difícil de demissões, de empresas fechando e a gente vem atuando aí em algumas frentes. A Sendec é uma secretaria nova, criada pelo prefeito Bruno Reis nessa primeira gestão, com o objetivo, de fato, de ter uma pasta pensando o desenvolvimento econômico da cidade. E dentro desse desafio, a gente se divide em duas pautas muito fortes: o fortalecimento da economia existente na cidade – Salvador é uma cidade que tem sua matriz econômica baseada em comércio e serviços, tendo o setor de turismo como uma das suas molas propulsoras, como uma das suas principais fontes econômicas, temos também o setor industrial ainda relevante, 11% do nosso PIB é do setor industrial, mas quando você vai destrinchar você vê que boa parte disso vem da construção civil. Então, a gente tem uma matriz econômica hoje na cidade e a gente precisa olhar para essas empresas que estão na cidade e pensar o agora. Pensar programas estruturados pra fortalecer o que já tem de forças, de economia. E a outra metade do nosso tempo é dedicado a pensar como a gente pode crescer essa matriz econômica, aumentar nossa base de PIB, crescer o PIB per capita. E esse olhar vem, sim, num olhar muito forte de atrair novos negócios para a cidade e diversificar sua matriz econômica, apostar em outros segmentos, que hoje talvez não sejam relevantes no nosso PIB, mas que, de alguma maneira, a cidade tenha capacidade de se estruturar, de atrair. Então, dentro desse cenário, a gente vem atuando, olhando para a matriz econômica existente, trazendo projetos de formação e capacitação de mão de obras, se aproximando dos setores da cidade, entendendo as necessidades, e, principalmente, sensibilizando os empresários no que se refere a essa busca de trabalhadores mais qualificados. A gente tem um desafio muito grande junto ao empresariado. Inclusive, a gente percebe uma recuperação da nossa economia quando a gente observa os dados do Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] de agosto, que acabou se ser publicado. A gente vê que a cidade já recuperou todos os empregos que a gente perdeu em 2020 e já superou isso em, aproximadamente, 7 mil empregos. A cidade já empregou 21.260 pessoas, de janeiro a agosto desse ano. E o setor de serviços foi o que mais empregou nesse período. A gente vê os sinais de recuperação econômica e os programas da secretaria têm corroborado com esse momento da economia.

A falta de capacitação é uma realidade que sempre travou a intermediação de mão de obra que a Prefeitura tentava fazer através do SIMM. Como tem sido tocado isso na administração atual?

A gente tem uma pauta muito forte que busca e foca na capacitação. A gente percebe desde o início da gestão que uma das principais demandas do mercado é a formação da capacitação. O que a gente tem feito pra isso? A gente tem hoje trabalhado no SIMM nesse programa ‘Treinar para Empregar’, que a gente foca muito mais na empregabilidade do que no encaminhamento dos cidadãos às vagas disponíveis. O ‘Treinar para Empregar’ atua nas duas pontas. Atua na ponta do empreendedor, entendendo a necessidade dele e sensibilizando ele para a gente criar programas de capacitação, que sejam focados nas demandas desse mercado, desse empresário. E, de um outro lado, a gente cria e estrutura cursos de capacitação para melhorar a qualificação dessas pessoas. Vou dar um exemplo. O primeiro parceiro desse programa foi o Mater Dei, esse hospital que está chegando aí na região do Lucaia e que vai gerar cerca de 700 vagas de emprego, estou falando da vaga de emprego chão de fábrica, pra rodar o hospital. A gente conversou antecipadamente, a gente sabia que o hospital iria precisar de mão de obra e a gente criou trilhas de conhecimento em parceria com o Mater Dei para formar as pessoas da cidade exatamente naquelas carreiras que o próprio hospital iria demandar. Assim como a gente fez na área de saúde, com o ‘Treinar para Empregar Excelência em Saúde’, a gente tem feito em várias outras trilhas. Agora, a gente está criando a trilha do varejo. A gente está conversando com os empresários da área de varejo para criar programas de capacitação e formar pessoas na área do varejo. Temos outra trilha na construção civil. A gente tem criado e oferecido vagas gratuitas de capacitação em parceria também com as Prefeituras-Bairro para ofertar a capacitação para a população, focada nas disponibilidades, nas carreiras que o mercado hoje está demandando. Então, é o nosso principal programa nessa vertente de formação e capacitação. A gente tem um programa que prevê nos próximos três anos de formar pessoas em diversas carreiras, como a gente chama, em diversas trilhas de conhecimento, sempre focado em carreiras que o mercado hoje está demandando ou que a gente já enxerga que vai passar a demandar nos próximos meses, nos próximos anos.

Que projetos devem ser colocados como prioridade para alavancar essa questão da geração de emprego e renda e fomentar o desenvolvimento econômico que Salvador tanto precisa?

De um lado, sem dúvida nenhuma, aquilo que a gente já falou: os programas de formação profissional e de capacitação. Precisamos sim investir na capacitação e na atração de novas matrizes econômicas. A gente sente uma demanda muito grande por capacitação, é um feedback tanto dos empresários quanto do próprio cidadão que se sente às vezes frustrado porque já tentou várias oportunidades e não conseguiu se colocar. Então sem dúvida nenhuma, um programa prioritário nosso é o programa de qualificação. Por outro lado, a gente precisa trabalhar muito forte na atração de empresas para a cidade e na diversificação da nossa matriz econômica, porque, como eu falei, a gente tem uma matriz econômica com determinados segmentos prioritários, mas a gente precisa atrair novas empresas, sejam elas dos mesmos, sejam elas de novos segmentos. Por exemplo, a gente tem hoje um olhar muito forte sobre a oportunidade da área de saúde. Grandes grupos da área de saúde chegaram a Salvador, seja adquirindo grandes redes de hospitais, seja investindo em infraestrutura e novos hospitais na cidade, como é o caso do Mater Dei, como é o caso da Rede D’Or, como é o grupo Dasa. Diante disso, a gente entende que o setor de saúde é um setor extremamente estratégico. A gente tem um programa que a gente está começando a desenhar que é entender as oportunidades, entender como é a cidade de Salvador, o papel da prefeitura dentro dessa vertente da saúde. A gente entende que temos um potencial muito grande para se tornar referência no Nordeste em prestação de serviços de saúde. Diante disso, a gente precisa se posicionar e desenhar um projeto, montar e implantar um programa de aproveitamento dessa cadeia produtiva da saúde, seja na área de fármacos, seja na área de materiais industriais, indústrias de materiais na área de saúde, essa é uma das novas vertentes econômicas que eu comentei que é papel também da Secretaria de plantar essas sementes para essa nova economia. O setor de logística é um outro setor e a gente percebeu com a pandemia que tem uma nova dinâmica e isso abre um leque de novas oportunidades. Com essa mudança da logística mundial e da forma de se comprar e de consumir, abre-se uma grande oportunidade para grandes centros, grandes capitais se posicionarem frente ao mercado logístico. Existe um programa de desenhar e estruturar Salvador como um polo logístico para a atração de empresas da área de logística. Então a gente já tem conversado com algumas grandes empresas, grandes redes de logística e já tem se estruturado para montar esse programa que é uma outra das vertentes que a gente entende que Salvador tem grande potencial para se desenvolver. Um outro olhar que a gente tem também, olhando para essa questão da diversificação da nossa matriz, é a área de tecnologia. Ainda falando um pouco do pós-pandemia, um movimento que já vinha acontecendo e que a pandemia foi um grande catalisador, são as oportunidades na área de tecnologia. Ou seja, tanto atrair empresas de base tecnológica para Salvador quanto desenvolver aqui um ecossistema de startup de tecnologia, que tenha potencial, que possa fazer Salvador daqui a alguns anos ter o seu percentual de tecnologia relevante, como também formar pessoas, capacitar pessoas na área de tecnologia, que é a área que mais emprega no mundo, a gente já ouve falar nesse apagão de mão de obra da tecnologia. A gente entende que é um grande setor de oportunidades de emprego, empregos qualificados, que pagam bem, e que a gente entende que Salvador tem toda a capacidade de entrar na disputa para esse mercado de cidade destino de empresas e de cidades que ofertam de mão de obra de tecnologia.

De que forma vai ser a construção desse novo cenário voltado para a área da tecnologia?

A gente entende que essa é uma grande oportunidade. Na verdade, esse olhar não é de agora. Salvador já vem entendendo que a área de tecnologia é sem dúvida nenhuma uma área estratégica para a cidade. Há algum tempo, desde a gestão anterior, quando foi implantado o ramo da tecnologia, que tem essa ideia de se fortalecer um ecossistema de empresas locais de tecnologia. Diversos editais que foram sendo publicados, inclusive agora a Secretaria de Sustentabilidade lançou agora na nova gestão outros editais junto com o CIMATEC que fazem investimentos em empresas de tecnologia, que lançam desafios para as startups locais. E a Secretaria de Desenvolvimento Econômico vem com o olhar de como a gente pode estruturar a cidade para que ela possa se tornar, daqui a algum tempo, uma cidade que tenha no seu PIB a tecnologia como um percentual relevante da sua economia como outras cidades do Brasil e do mundo já tiveram. Tanto a gente vem se estruturando para atrair empresas para cá e a gente entende que para atrair empresas para Salvador a oferta de mão de obra na área de tecnologia é algo extremamente estruturante. Dentro dessa perspectiva, a gente vem atuando desde a base, e a gente tem alguns programas sendo desenvolvidos com a Secretaria de Comunicação para introduzir os conceitos de tecnologia e de “gameficação” desde a escola infantil e fundamental da escola pública, que é papel do município, até programas mais estruturais que entram na camada mais velha da população, dos jovens que não estão na escola pública municipal, que são os egressos da escola pública estadual. A gente entende que a gente tem um potencial grande de formar esses jovens em diversas carreiras e trilhas dessa área de tecnologia que você tem hoje uma infinidade de carreiras dessa área, e a gente entende que Salvador tem todas as condições de disputar de igual para igual com vários lugares do mundo essa grande oportunidade que é o mercado de tecnologia.

Como tem sido o olhar da gestão para o setor produtivo e para o empresariado de Salvador?

Eu não diria nem que é importante, eu diria que é fundamental. Essa transformação que Salvador tem toda a capacidade de fazer, essa mudança na atividade econômica, essa diversificação, a gente não faz isso sozinho com o poder público, o apoio do setor privado é fundamental. Seja através de uma aproximação trazendo contribuições para que a gente estruture políticas públicas mais assertivas para esse segmento, mas também apoiando iniciativas, dividindo com o poder público esse papel frente à transformação social e econômica. Quando a gente fala tanto dos conceitos da EFG, sustentabilidade, enxerga esse movimento todo que está acontecendo no mundo, essa responsabilidade das empresas, isso também se aplica a em Salvador, a gente precisa se unir, poder público e iniciativa privada, para que a gente possa de fato fazer a transformação na cidade. A gente fez o fórum empresarial que foi até promessa de campanha do prefeito, a gente fez o primeiro encontro desses empresários locais com o prefeito, é o momento de disputa de a gente trocar essas crenças e trazer esses empresários para perto. Sem essa união, eu não acredito em uma transformação da cidade, numa transformação real da economia. A gente precisa, poder público, os setores empresariais, precisam de fato se unir em prol da transformação da cidade. A gente entende que Salvador está num excelente momento oportuno no mundo. Todo esse discurso do EFG que se fala hoje, que fundos do mundo todo estão se voltando para investir em empresas EFG e as empresas estão repensando o seu papel como empresa dentro da sociedade, é um momento extremamente oportuno. Salvador é uma cidade que tem as vertentes, os pilares do EFG na sua essência. Salvador é uma cidade EFG sem precisar se esforçar para isso. Salvador tem desde a diversidade cultural, religiosa, racial como eixo fundamental da cidade. Então você vê empresas como Nubank e vai pegar seu primeiro núcleo de diversidade em Salvador. Ou seja, empresas do mundo querem testar suas políticas de diversidade em Salvador. A gente tem a diversidade como essência da cidade. A gente entende que esse é um momento extremamente crucial e extremamente oportuno em Salvador no que diz respeito à atração de empresas e de se colocar como uma cidade EFG do Brasil. A gente entende que é através da união do poder público e da iniciativa privada que a gente vai poder transformar Salvador numa cidade de trabalho, de empresas, de geração de riquezas.

 

Fonte: A Tarde On Line

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