Dois caminhões de mudanças, caixas, luzes apagadas e pouca movimentação davam o tom de despedida do Bahia Othon Palace Hotel, em Ondina, nesta segunda-feira (19). O primeiro dia com o hotel fechado foi exclusivamente de retirada de móveis e limpeza do local. A equipe do CORREIO esteve na unidade, mas foi expulsa por uma equipe de seguranças.
Poucos dos 184 funcionários estavam no local durante o primeiro dia sem hóspedes – trabalhavam na filial baiana da rede carioca cerca de 240 pessoas, incluindo terceirizados. Os funcionários retornam ao Othon nesta terça-feira (20) para assinar o aviso prévio. Após a demissão inesperada, a esperança de muitos deles é a contratação pelo novo hotel que irá inaugurar no Centro de Salvador no início de dezembro: o Fasano, que fica em frente à Praça Castro Alves. Uma parte dos funcionários do Othon deve ser reabsorvida pela unidade.
A assessoria do Fasano confirmou nesta segunda-feira que recebeu um pedido do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Restaurantes e similares de Salvador e Região Metropolitana (Sindhotéis) para que entrevistas com os funcionários do Othon sejam realizadas. Eles confirmaram que o RH da empresa irá fazer o processo seletivo com os colaboradores. O Fasano não afirmou, no entanto, qual será o número de funcionários do novo hotel.
O CORREIO buscou contato com as secretarias estadual e municipal da Fazenda. Ambas afirmaram que há um sigilo tributário e que apenas poderia ser informado as dívidas que tivessem sido judicializadas – o que não ocorreu. “Os débitos com ICMS que não estão protegidos por confidencialidade fiscal são aqueles inscritos em dívida ativa. O Othon Palace não tem nenhum débito nesta condição”, explicou a secretaria estadual da Fazenda, através de nota.
Caminhões retiraram caixas do Othon em primeiro dia fechado (Foto: Arisson Marinho / CORREIO) |
Tinoco acrescentou que a forma com que o hotel está realizando seu fechamento é “típica de quem já está tendo que tomar providências para transferir o domínio da operação” mas que, geralmente, essas transações são feitas de forma sigilosa. “Eles estão contatando o sindicato, já estão deixando as coisas com os funcionários legais e realizando desmonte. Acredito que estejam com negociações”, disse.
O trade turístico, por sua vez, tem esperanças quanto a uma nova operação para a estrutura. “Acreditamos que tenha alguma negociação. É normal neste tipo de negócio a confidencialidade. Acreditamos que é um problema mais sério da cadeia Othon nacional. A Bahia está sendo só mais um a sofrer o problema da gestão nacional”, disse Roberto Duran, presidente do Salvador Destination.
Resultados insatisfatórios
No balanço do terceiro trimestre deste ano, a rede Othon justificou o fechamento das unidades de Salvador e de Belo Horizonte como uma tentativa de “melhor enfrentar os efeitos negativos da crise que já dura alguns anos”.
“Tradicionais e muito conhecidos nas regiões em que atuavam, estas unidades já tiveram seu tempo de glória. Mas atualmente, devido ao cenário de redução econômica dos últimos anos, com consequente queda nas taxas de ocupação, estas unidades deixaram apresentar resultados satisfatórios para a Empresa”, escreveu a administração em uma mensagem.
Além do fechamento de unidades, o Othon afirmou estar em uma estratégia de redução de custos e despesas que inclui a demissão de pessoas das funções operacionais, administrativas e de “backoffice”.
“Apesar de encerrar as atividades em três de suas unidades este ano, a rede mantém sua estratégia de crescer via novas parcerias com investidores interessados em ter a marca forte ‘Othon’ administrando suas unidades. O intuito é crescer para o interior de grandes estados e regiões promissoras, com grande potencial de fluxo de turistas e hóspedes corporativos ou a lazer, tais como São Paulo, região Nordeste, Sul e Centro Oeste e, e principalmente no estado de Minas Gerais”, escreveu o grupo sobre sua estratégia.
Impacto
Fora as diversas demissões, o trade turístico estima que 50 áreas sejam afetadas diretamente com o fechamento do hotel em Salvador. Uma delas é a de transporte. Os taxistas que tinham o Othon como ponto lamentam a decisão. “Isso aqui vai virar um cemitério. Há uns cinco anos foi esse Salvador Praia, que hoje fica aí sem funcionamento, e agora o Othon, ao lado dele. Para a gente isso é terrível. Antes, tínhamos todo mundo do hotel e que vinham também para os congressos. Agora, perdemos essa movimentação”, lamentou o taxista José Carlos, que trabalha no local há 30 anos.
O taxista Nilton Lima, que também trabalha no local há 30 anos, explicou que, para além da categoria, o comércio que fica no entorno do hotel também irá sentir. “Os funcionários desciam para comer no acarajé, nos restaurantes do entorno, compravam nos mercados. Isso não vai existir mais. Então vai todo mundo sofrer. Vai impactar demais na nossa renda. Tá cada dia ficando pior”, lamentou.
Boa parte dos taxistas que ficavam no hotel também tinham como ponto a rua marginal à Avenida Oceânica, do outro lado da rua, em frente à escola Dorilândia. “A gente ficava aqui e tinha um rádio para comunicação com eles. Eles chamavam e a gente ia buscar o cliente lá dentro”, explicou Nilton.
Carnaval
A grande preocupação de muitos soteropolitanos é com o Carnaval de Salvador. O Othon é um dos ícones da festa, chegando até mesmo a ser ponto de referência. O Camarote Planeta Band afirmou que o camarote funcionará normalmente no hotel.
“A Camarote Marketing e Produções, empresa realizadora do Camarote Planeta Band, lamenta o fim das atividades do tradicional Othon Palace Hotel, e informa que o fechamento não altera a programação e estrutura do camarote no Carnaval 2019, sucesso que completa 17 anos no próximo ano”, disse a empresa em comunicado. O camarote conta com um mirante de 100m² e 20 outros ambientes.