Facções são responsáveis pela violência em Saubara, Tanquinho e Simões Filho

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Mário Bittencourt

Pela Organização das Nações Unidas (ONU), a taxa aceitável é de 10 mortes para cada 100 mil habitantes.

Das facções citadas no estudo, são duas as que atuam na região de Saubara (no Recôncavo baiano), e o problema é localizado em dois distritos praianos: Cabuçu, área de atuação do Bonde do Maluco (BDM), e Bom Jesus dos Pobres, onde está presente a Katiara.

O problema afeta principalmente as áreas de veraneio, onde residências têm sido invadidas por traficantes, o que afugenta moradores até com toque de recolher, como o CORREIO mostrou em reportagem do dia 19 de julho de 2019.

A cidade de Saubara tem pouco menos de 12 mil habitantes e passou a ser alvo de traficantes com a busca de moradores de Feira de Santana – base de atuação da Katiara – pelas praias do local, até há uns dois anos consideradas pacatas.

Os traficantes viram no movimento veranista uma oportunidade para expandir os negócios ilícitos e passaram a criar pontos de tráfico, inicialmente com a Katiara, que dominava Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres, depois com o BDM, que, após uma guerra do tráfico, conquistou locais de vendas de entorpecentes da Katiara.

Uma professora que mora em Salvador e teve imóvel invadido ano passado em Cabuçu, com prejuízo de R$ 3,5 mil, informou que este ano ela e os parentes nem foram ainda à residência por medo dos traficantes. “Tem 45 anos que temos essa casa e nunca tinha ocorrido isso”, afirmou ela.

Dados oficiais
Em 2017 (ano base do Atlas da Violência), houve em Saubara, segundo registros da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), 14 homicídios dolosos, uma lesão seguida de morte, duas tentativas de homicídio, dois estupros, oito roubos /furtos de veículos e dez apreensões de usuários de drogas.

Os números sobre arrombamentos de imóveis não foram informados. Segundo a polícia, os traficantes estão fazendo essas invasões, sobretudo durante a baixa estação, para estabelecer os pontos de vendas de drogas durante o Verão.

Mas o delegado coordenador da 3ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin), Rafael Almeida de Oliveira, responsável pela área de Saubara, informou que já foram realizadas quatro fases de uma operação que a Polícia Civil denominou de “Operação Cabuçu Livre”, a qual “desmantelou a atuação do BDM”.

“O líder da facção, Jean Barroso, o Jean de Leninha, que estava escondido em Sergipe e comandava tudo à distância, foi morto durante uma das fases da operação, no dia 3 de maio. Outros nove comparsas dele também foram presos. Doze armas, entre revólveres, espingardas e submetralhadoras, foram apreendidas. Demos uma baixa no BDM e agora estamos focados na Katiara”, disse o delegado ao CORREIO.

Para o delegado, a disputa entre os traficantes “parece ser mais coisa de vaidade deles, de dizer que manda e ser violento. A população que mora lá de baixa renda, praticamente de pescadores, não tem uma classe que possa gastar dinheiro com drogas”.

Mas, segundo moradores, as invasões aos imóveis têm ocorrido mais para vender os objetos roubados e comprar drogas, ou fazer a troca diretamente. Em alguns casos, as casas são invadidas mesmo com a presença de caseiros. Em Cabuçu, várias casas estão à venda, duas delas, as mais famosas, são da cantora Maria Bethânia. R$ 2,5 milhões é o preço total dos dois imóveis da cantora baiana.

A Prefeitura de Saubara, em nota, declarou que “tem ampliado às ações de proteção social por meio da oferta dos benefícios e serviços socioassistenciais em todo o município”.

“A exemplo, citamos a expansão das ações da secretaria para os distritos de Cabuçu e Bom Jesus dos Pobres, no anseio de estar cada vez mais próximo a comunidade e ofertá-la proteção social e, consequentemente, melhor qualidade de vida aos saubarenses”, afirmou.

Amigos antigos
Em Tanquinho, cidade de pouco mais de 7 mil habitantes, o problema da violência provocada pelo tráfico de drogas é entre dois antigos amigos, Felipão e Leandro, segundo relato de moradores locais.

Leandro, nativo de Tanquinho (na região de Feira de Santana), vivia em Salvador, onde se envolveu com BDM e passou a ser o chefão da cidade, com o envio de drogas e armas para o seu antigo braço-direito Felipão, o Paraíba.

Mas Felipão buscou a Katiara e não quis mais saber dos serviços de Leandro. Em Tanquinho, Leandro domina as áreas dos bairros do Brogodó, Bela Vista, Rua do Cipó e Parque do Centro. Felipão, por sua vez, atua no Bebedouro, Invasão e Barroquinha.

“Eles ficam um tentando invadir a área do outro o tempo todo. Daí que ocorrem as disputas pelo tráfico. Hoje, mesmo, tem uma festa de paredão chamada ‘segunda sem lei’ que só dar a ralé, gente que curte bebida e droga. É pra onde eles gostam de ir vender suas porcarias”, disse um comerciante local.

Segundo relato do comerciante, que atua no ramo de alimentos e prefere não se identificar, vários estabelecimentos comerciais da cidade passaram a ter queda nas vendas depois da guerra do tráfico. “Eu mesmo, tinha antes, 13 funcionários, hoje só tenho um e trabalho com mulher e filhos. Tive de fechar outros estabelecimentos. Antes, faturava uns R$ 1,5 mil por dia, hoje não chega a R$ 200”, afirmou.

Em Tanquinho, em 2017, o número de homicídios dolosos foi de apenas 5. Teve ainda um latrocínio (roubo seguido de morte), sete tentativas de homicídio, 5 estupros, seis roubos/furtos de veículos e três prisões de usuários de drogas.

A Prefeitura de Tanquinho ficou de comentar sobre ações sociais desenvolvidas em áreas vulneráveis ao tráfico, mas não deu retorno. O CORREIO não conseguiu contato com o delegado Roberto da Silva Leal, da 1ª Corpin (Feira de Santana), responsável por Tanquinho.

A reportagem não conseguiu contato com a Prefeitura de Simões Filho e ninguém atendeu as chamadas na 22ª Delegacia. A área de Simões Filho, cidade de 132 mil habitantes, tem forte atuação da facção BDM, que tem buscado mostrar seu poderio por meio de vídeos de tortura e morte de desafetos que são divulgados em redes sociais, conforme o CORREIO mostrou. Em 2017, a SSP registrou 127 homicídios dolosos na cidade, dois latrocínios e seis tentativas de homicídio, dentre outros crimes.

Outro lado
A Secretaria de Segurança Pública, em nota, diz que “desconhece a metodologia utilizada pelo Atlas da Violência publicado esta semana, já que os dados apresentados pela pesquisa não condizem com números registrados” e que “diferente do divulgado, em Salvador, foram contabilizados 1.346 casos de homicídio no ano de 2017, menos 530 casos”.

Diz também que “há discrepância nos números apresentados pela pesquisa sobre os municípios de Simões Filho, Porto Seguro e Lauro de Freitas. Essas e as demais estatísticas criminais estão disponível no site da instituição (www.ssp.ba.gov.br)”.

A SSP afirma que “que a redução dos crimes violentos letais intencionais na Bahia ocorre desde 2017, com destaque para 2018 com o menor número dos últimos seis anos, e segue em declínio até o primeiro semestre de 2019”.

Fonte: Correio da Bahia

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