Foi uma inspiração familiar que levou o casal Célia Miranda Mattos, 47 anos, e Gustavo Mattos, 46, a empreender com cachaça no Brasil, mesmo já comandando um restaurante de sucesso em Paris, na França, há mais de dez anos. Os dois são donos da destilaria Octaviano Della Colletta, fundada há cerca de três anos no interior de São Paulo, e que colocou no mercado a cachaça Alzira, em setembro do ano passado. A bebida é homenageada todos os anos no dia 13 de setembro.
Os dois são formados em gastronomia pela Condon Bleu, na capital francesa, e gerenciam um “clube” privativo de culinária na cidade desde 2008, o Chez Nous, Chez Vous, que funciona no apartamento do casal. “Já trabalhamos em restaurantes renomados, alguns Michelin, mas é muito cansativo ficar até 16 horas por dia em pé. Queríamos algo nosso”, diz Célia. No espaço destinado para o restaurante, os clientes podem interagir com os chefs enquanto a comida é preparada.
Em meados dos anos 2010, eles buscavam um produto autoral para empreender. O que os levou à cachaça foi o avô de Gustavo, Octaviano Della Colletta (já falecido), que era um grande entusiasta da bebida. “Ele não era produtor em larga escala, mas era apaixonado pela cachaça. Ele tinha seu próprio barril e fazia o blend e envelhecimento em casa”, diz a empreendedora.
Em 2016, eles compraram uma fazenda na cidade de Torrinha, no interior de São Paulo, que tem pouco mais de 10 mil habitantes. O local foi adaptado até que eles conseguissem iniciar a produção. O casal não revela o investimento feito, mas todos os insumos utilizados nas bebidas são produzidos na destilaria. A ideia é aproveitar tudo o que é feito no local. “Contratamos um arquiteto para fazer uma destilaria que fosse chique, elegante e que tirasse da cabeça das pessoas a ideia de alambique”, afirma Célia.
Destilaria Octaviano Della Colleta, no interior de São Paulo (Foto: Divulgação)
O primeiro rótulo desenvolvido foi mais premium, e deu origem à marca “Cê”. Depois de pegar o jeito e aprimorar processos e equipamentos, eles resolveram que produziriam uma cachaça “de entrada”, com o objetivo de ajudar a popularizar a bebida no país. “O Brasil tem muita dificuldade de enaltecer a bebida nacional. Diferente do México, que fez um trabalho incrível com a tequila”, observa a empreendedora.
No início da pandemia, o casal veio para o Brasil para cuidar de perto da produção – e ficou aqui até hoje. O restaurante em Paris segue fechado, mas o negócio não foi encerrado. “Só funciona quando nós estamos lá. Quando voltarmos, reabriremos.”
Há cerca de um ano, os dois resolveram homenagear o centenário da avó de Gustavo, Dona Alzira, transformando-a no rótulo e no rosto da nova linha. “Uma das mulheres mais fortes que eu já conheci, à frente do seu tempo”, diz Célia.

De acordo com a empreendedora, Alzira questionava os paradigmas da pequena cidade e desde sempre ia a cabeleireiros, bailes e dirigia, sem se importar com o julgamento alheio. Por essa razão, cada garrafa tem um rosto diferente estampado no rótulo. “É para mostrar a vertente multifacetada das mulheres, que Alzira exemplifica muito bem.”
A fazenda tem capacidade de produzir 60 mil litros de cachaça Alzira por ano e tem 13 funcionários. No ano passado, não foi possível alcançar o limite por que cerca de 40% do canavial se perdeu por conta de adversidades climáticas. Célia acredita que neste ano os 60 mil litros serão atingidos. O valor sugerido para uma garrafa de 750 ml é de R$ 98.
Fonte: Revista PEGN