Renda domiciliar do trabalho bate recorde nas metrópoles, mas base da pirâmide é a menos beneficiada

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Entre o quarto trimestre de 2022 e o quarto trimestre de 2023 a renda domiciliar per capita do trabalho cresceu 4,6% nas regiões metropolitanas brasileiras. Como resultado, a média de renda chegou a R$1.801,60, o maior valor da série histórica iniciada em 2012. No entanto, nem todos os estratos sociais foram beneficiados da mesma forma.

Se, entre as famílias que fazem parte das 10% mais ricas o crescimento foi de 7,6% no período, entre aquelas que estão na base da pirâmide – 40% mais pobres -, o crescimento interanual ficou em 1,54%.

A média da renda das famílias desse estrato mais baixo alcançou o valor de R$269,54 no final de 2023, o que ainda é 4,7% menor que a média registrada no quarto trimestre de 2019, o último antes da pandemia: R$282,85.

Já entre os 50% intermediários, o aumento da renda entre final de 2022 e final de 2023 foi de 4,98%, fazendo sua média chegar a R$1.669,70.

As informações estão na décima quinta edição do “Boletim – Desigualdade nas Metrópoles”, produzido em parceria pelo PUCRS Data Social, o Observatório das Metrópoles e a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL).

Os dados são provenientes da PNAD Contínua trimestral, do IBGE, e dizem respeito à renda domiciliar per capita do trabalho somente, incluindo o setor informal.

O recorte utilizado é o das 22 principais áreas metropolitanas do país, de acordo com as definições do IBGE. Todos os dados estão deflacionados para o quarto trimestre de 2023, de acordo com o IPCA.

Os dados reunidos pelo levantamento mostram um cenário onde todos os estratos melhoraram seus rendimentos, mas também no qual as famílias mais pobres tiveram ganhos significativamente menores.

Como consequência, alguns indicadores acusam aumento das desigualdades no período. A razão entre a média da renda dos 10% mais ricos e dos 40% mais pobres, por exemplo, apresentou comportamento de aumento desde o final de 2022.

No quarto trimestre de 2022 a média de renda das famílias mais ricas era 30,8 vezes maior que a das famílias mais pobres. Um ano depois, no final de 2023, essa razão havia subido para 32,7.

Já o coeficiente de Gini, que varia de 0 até 1, de modo que quanto maior seu valor maior a desigualdade, tem mostrado tendência de leve aumento, interrompendo assim o movimento de queda ocorrido após a pandemia.

Se, no final de 2022, o coeficiente de Gini para o conjunto das regiões metropolitanas ficava em 0,620, no final de 2024 o valor registrado foi de 0,626. O valor encontrado nos últimos três trimestres foi o mesmo (0,626), o que indica tendência de estagnação neste indicador.

Segundo Marcelo Ribeiro, professor do IPPUR-UFRJ e um dos coordenadores do estudo, “o coeficiente de Gini é menos sensível à desigualdade entre os extremos da distribuição, e mais sensível à desequilíbrios no meio. Por esse motivo o Gini mostra maior estabilidade, enquanto a razão de rendimentos indica maior aumento das desigualdades no período”.

De acordo com os pesquisadores, alguns fatores ajudam a entender as razões pelas quais o crescimento da renda foi menor na base da pirâmide.

Segundo Andre Salata, coordenador do PUCRS Data Social e um dos autores do estudo, “entre o quarto trimestre de 2022 e o mesmo período de 2023, setores de atividade como Transporte e Construção, que são importantes fontes de emprego na base da pirâmide, tiveram desempenho inferior aos demais, chegando a apresentar queda na renda média.

Como consequência, o aumento da atividade econômica foi menos benéfico para os trabalhadores pouco qualificados, de modo que entre aqueles com baixa escolaridade a média de renda chegou a cair.” 

Marcelo Ribeiro lembra que no período tivemos crescimento da atividade econômica, com redução da taxa de desocupação no país – 7,9% para 7,4% -, retomada e aprimoramento de diversas políticas sociais (como o Bolsa Família), e retorno da política de valorização real do salário-mínimo (de R$1.212 para R$1.320).

De acordo com o pesquisador, “tais medidas foram importantes para impulsionar o mercado de trabalho e aumentar a renda das famílias a ponto de chegarmos no maior valor da série histórica; no entanto, os dados mostram que tais medidas ainda não garantiram crescimento substantivo do rendimento das famílias mais pobres”.  

Por fim, Andre Salata afirma que no nível nacional, para além do recorte das regiões metropolitanas, as tendências acima mencionadas chegam até mesmo a se intensificar.

Segundo Salata, “para o Brasil como um todo, a renda dos 40% mais pobres chegou a apresentar queda de 2,54% no período, caindo de R$192,97 para R$188,07. Ou seja, os resultados observados por nós não se restringem à realidade metropolitana”.

Por outro lado, Salata lembra que os resultados apresentados se restringem aos rendimentos do trabalho: “os dados aqui analisados não incluem, por exemplo, fontes de renda como o Bolsa Família ou BPC. Ao incluí-los, é possível que as tendências observadas sejam diferentes”, conclui.   

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