DESCREVO QUE ERA REALMENTE NAQUELE TEMPO A MINHA SANTINHA

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Na primeira noite me apaixonei por ela.

Na segunda, ela me roubou uma flor do nosso jardim.

Senhor engenheiro, tenho algo para te dizer sobre a minha Santinha:

O limpador de parabrisa na espera de um carro,

Daí, pensa: enxugar gelo, melhor seria.

Enquanto isso, o dono da lanchonete joga dominó 

Para matar o tempo e passar o dia,

Degusta requeijão e doce de goiaba como tira gosto.

Não existe mais acostamento, 

Nem para o bêbado descer dançando forró.

O cachorro Beethoven tenta atravessar a Br, pulando a mureta. 

O borracheiro consertou o carro como se fosse o último.

O ligeirinho levou seus passageiros como se estivesse indo para o céu.

Na minha terrinha não existem mais mangueiras para cantar o meu cardeá. 

Cercou o terreiro das casas como se fosse um castelo,

E não se pode mais ver o sol nascer, 

Nem mais prozar na frente da casa.

Na frente das escolas não existe uma passarela porque o aluno não precisa de mais nada: já têm tudo!

Pacatu, Pacatu na única faixa de perdeste que tem; passa cavalo, moto, bicicleta e gente, gente de todo tipo. E o cão pula a mureta, viu?!

“Vi um cego empurrando o cadeirante na cadeira de rodas como se fosse passar uma tarde em Itapuã”.

…Diminuiu o engarrafamento, e o ir e vir do povo, está sempre congestionado.

O cabra pergunta: como vendo meu galo, meu jegue, meu cavalo,

Se é difícil chegar no Campo do Gado, Santa Bárbara, o que há de nós?

A construção dessa Br-116 (inaugurada – incompletamente) 

Passa boi, passa uma boiada. 

Mas no meio dela tem uma pedra…

Eu só sei que não vou por aí, camarada.

– Prólogo para os que já se foram:

Se até os mortos celebram o São João antecipado: está morto, pode festejar a vontade.

Isso não tem graça, nem merece praça porque há que sinta “La-vra-dor”. 

A minha dor, é dor de menino acanhado:

E como eu não posso viver de poesia!?

Eu não escolhi fazer poesia, não. 

Ela me escolheu porque aguento ser realista! 

…mas a parte de baixo da cidade ainda tem o arraiá.

Temos uma política: bode guiando ovelhas!

Se não é por NÓS, é do sistema!

Aguardo à Câmera filmar isso, não tirarem selfie, vereadores.

Mais a frente, o homem quebra a mureta e faz uma roubadinha.

Em frente a igreja, o DNIT – Sambalate faz passarela com o ide comercial da Lanchonete, que diz: venha a mim, todos os famintos e sedentos, que eu os ajudarei. (A estrela de David, brilhou, Obede-Edom )

Valha Deus, Senhora Santa Bárbara,

Buraco velho, dentro tem cobra rara!

senhor, Engenheiro, o senhor precisa sentar mais vezes com um Poeta…

O senhor tem que ser mais sensível. Oxe! 

Tá comendo requeijão demais!  

Calcule sua rota, viu!?

Pessoas viraram coisas, cabeças viraram asfalto.

O Criador em seis dias fez o mundo. Você, Engenheiro, já tem anos e ainda não acabou essa obra!

Duplicou a pista, e diminuiu a vida do povo.

O IBGE veio aqui, e não contou todo mundo, nem tudo…

No Mapa–múndi de Santa Bárbara, nada mudou: a linha do Equador divide a parte de baixo; essa é de cor. 

Não é imaginação minha, é racismo ambiental, geográfico. 

Meu verso mapeou tudo isso, e você não consegue entender, Engenheiro!? 

Nessa cidade, até GPS se perde, dahora!

Como dois e dois são quatro, Professor?

Se tem dois que governam, um que planta e um que come?

Oh, Santa Bárbara que tens bastantes requeijão!

O pão custa caro;

E teu povo que é fiel, passa fome!

A liberdade é pouca,

Mas a vida sempre vale a pena.

Não sou boca do inferno, mas 

Espero que minhas palavras não voltem vazias, engenhosa!

– Contudo, Negão, Santa Bárbara é branca, mais é maravilhosa.

Autor: Machado de Jesus/Escritor

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