“Geração do quarto”: especialistas alertam sobre os perigos do isolamento infantil e o excesso de telas

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“A Importância do Cuidado Parental para o Desenvolvimento Infantojuvenil” foi a temática da palestra realizada, na noite desta quinta-feira (24), no auditório do NH Hotel, em Feira de Santana.

Idealizada pela pediatra e hebiatra Cinthia Filomena, o evento discutiu os desafios enfrentados pela “geração do quarto”, onde muitas crianças passam tempo excessivo isoladas e perdem oportunidades de se desenvolver de forma motora, social e cognitiva de maneira saudável.

De acordo com a médica, esse isolamento, aliado ao uso contínuo de telas, tem prejudicado o desenvolvimento das habilidades essenciais para a infância.

Ao Acorda Cidade, ela informou que motivo de reunir os pais na palestra é justamente chamar a atenção e apresentar estratégias para melhorar o cuidado com as crianças.

“A criança é o reflexo da família e de quem cuida dela. Não há como desvincular a influência dos pais nos filhos, por isso é importante que os pais estejam preparados para entender a dinâmica do desenvolvimento infantil e contribuir para que seus filhos cresçam de forma saudável”, destacou.

Prática recomendada aos pais

Quanto às práticas recomendadas para promover ambientes mais saudáveis e equilibrados, Cinthia enfatiza a importância da presença dos pais. “As crianças clamam por presença. Elas precisam mais de apoio emocional do que material. Vivemos uma vida corrida, cheia de compromissos, e elas sentem a falta desse contato próximo. O toque, a conversa, o olho no olho, são essenciais para o desenvolvimento saudável.

Os impactos do excesso de tela

Sobre o impacto do excesso de tempo em dispositivos eletrônicos no desenvolvimento cognitivo e social, Cinthia explicou que “a exposição prolongada à luz azul das telas faz com que o cérebro aja de forma desordenada, o que resulta em alterações comportamentais.

“As crianças se tornam mais agitadas, menos concentradas, e isso pode gerar transtornos no comportamento”, enfatizou a pediatra em entrevista ao Acorda Cidade.

Atenção aos sinais

Ela também orienta os pais sobre os sinais que indicam que o filho pode estar sofrendo os efeitos negativos do isolamento ou do uso excessivo de tecnologias.

“Os pais devem ficar atentos a crianças que não querem brincar, sair de casa ou se relacionar com os outros. O uso excessivo de telas tem prejudicado a socialização, e muitas crianças estão tendo dificuldade até no desenvolvimento da fala.”

Cinthia recomendou mais brincadeiras lúdicas para as crianças e ao ar livre. “Precisamos reduzir o tempo de telas e aumentar o contato físico. O toque, o contato com a natureza e o brincar são a base do desenvolvimento saudável de uma criança.”

Conexão pais e filhos

Quem também palestrou no evento foi a psicóloga Nanda Perim, reconhecida nacionalmente por seu trabalho em parentalidade consciente e acompanhamento infantil, faz declarações sobre a importância da conexão entre pais e filhos.

“Quando a criança se isola dos pais, muitas vezes é porque se sente excessivamente cobrada, criticada ou por conta de implicâncias. Ao invés de aumentar o isolamento, é fundamental trazer mais conexão.”

Para Nanda, a melhor forma de criar essa conexão emocional é através de uma rotina estruturada. “Ter momentos em que todos guardam o celular para se conectar em família, o hábito de jantar juntos e conversar sobre o dia, ou passar finais de semana sem telas são essenciais. O amor vem da convivência, e convivência depende de conexão”, enfatizou.

A psicóloga alertou que, se as crianças não aprenderem a apreciar o mundo offline, podem se perder para as telas, especialmente em um futuro onde a tecnologia será ainda mais predominante. “Não é fácil controlar o uso das telas, por isso é importante discutir o tema, não para criticar os pais, mas para oferecer novas ideias.”

Proibir o celular?

Nanda explicou durante entrevista ao Acorda Cidade, que a retirada total do celular depende do contexto e da idade da criança. “Na primeira infância, pode fazer sentido eliminar o celular, mas na pré-adolescência, o peso social é grande e ser a única sem celular também pode trazer perdas. O ideal é controlar a qualidade e a quantidade de tempo de uso, não retirar o dispositivo eletrônico completamente.”

Ela recomenda que as crianças tenham horários definidos para o uso de telas e que, fora desses momentos, explorem atividades offline, como criar brincadeiras, usar a imaginação e interagir de forma ativa.

“Hoje, vemos uma perda nas brincadeiras tradicionais, como bonecas e carrinhos, o que impacta negativamente na criatividade e no desenvolvimento de habilidades de vida prática. Quando a criança só assiste ou joga passivamente, ela não gasta energia, não explora, nem dramatiza situações para se preparar para a vida.”

A psicóloga também destaca a importância da comunicação de qualidade entre pais e filhos.
“Quanto mais as crianças são tratadas com respeito, carinho e empatia, mais elas se tornam respeitosas, empáticas e menos propensas a carregar feridas emocionais ao longo da vida.”

Nanda ressalta que os métodos de criação de antigamente já não funcionam no mundo atual. “Hoje, temos vasto conteúdo disponível para aprender novas formas de criar nossos filhos. No meu Instagram, por exemplo, compartilho diariamente dicas gratuitas e práticas.”

Pais ausentes, crianças solitárias, consequências emocionais

Sobre crianças que apresentam comportamento descontrolado, Nanda afirma que muitas estão, na verdade, solitárias.

“Nunca houve um momento em que os pais estivessem tão ausentes na vida de seus filhos como hoje. As crianças passam o dia em escola integral e, nos fins de semana, os pais estão exaustos. Elas perderam a oportunidade de brincar na rua, de subir em árvores, e isso gera consequências emocionais.”

Ela acredita que a violência infantil é fruto da influência da violência à qual ela vem tendo acesso, da falta de conexão com os pais e da solidão. ” Eu acredito que a violência é consequência da violência. Quanto mais violência mais violência, quanto mais respeito, mais respeito, quando mais empatia, mais empatia e, além disso, a gente precisa ouvir o que a criança está sentindo. Se ela falar, não quero que você brinque assim comigo, não achei divertido, você precisa respeitar aquilo. Quanto mais a criança se sentir ouvida, quanto mais essa criança se sentir respeitada, menos violência a gente vai ter sem dúvida alguma”, declarou.

Sobre os ataques em escolas por crianças e adolescentes, Nanda aponta que esses comportamentos sejam consequência da ausência dos pais.

“Como uma criança tem acesso a isso? Como ela tem esses desejos ruins? Acontece tanta coisa na vida dela, até ela chegar nesse ponto e ninguém sabia? Falta acompanhamento dos pais, né? Falta, na verdade, presença, não acho que é só acompanhamento não, falta conexão, falta conversa, falta essa criança [conseguir se abrir para os pais e] dizer que ela está tendo pensamentos horríveis e esses pais acolherem, saberem o que está acontecendo, procurarem alguma ajuda. Falta conexão, não é só presença, é conexão mesmo”.

Fonte: Acorda Cidade

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