‘Exige muito mental’, diz Ítalo Ferreira sobre surfar em piscina artificial, que pode ser usada nas Olimpíadas

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Ítalo Ferreira é o atual líder da WSL (Circuíto Mundio de Surfe) e conseguiu o primeiro lugar ao conquistar, pela primeira vez, um título em piscina de ondas artificiais no dia 16 de fevereiro, na segunda etapa da competição, em Abu Dhabi. O atleta, de 30 anos, afirmou em entrevista exclusiva ao R7, que competir na piscina exige mais da parte psicológica do que no mar.

“A gente está acostumado a acordar de manhã cedo, ir para o mar, surfar, testar o equipamento e, aí, competir. Na piscina, é mais psicológico, porque você acorda e já tem que performar, não tem aquecimento. Você não tem aquela emoção de entrar ali e procurar a onda, porque já está tudo formado. Apesar de ser um ambiente controlado, com a onda perfeita, ela acaba também te exigindo muito mental. Competir em piscina é bem divertido, mas, ao mesmo tempo, desafiador”, disse Ítalo Ferreira.

O surfista foi o primeiro campeão olímpico da história, ao conquistar o ouro em Tóquio 2020, e foi campeão do mundo em 2019. Na conversa, ele também falou sobre a preparação e as expectativas para a temporada de 2025 após a vitória nos Emirados Árabes Unidos.

“Venho analisando alguns vídeos, de tudo o que vivi no passado e estou ouvindo mais o meu treinador. Pode ser que essa temporada seja totalmente diferente e eu possa voltar a vencer”, afirmou o atleta.

Ítalo venceu o primeiro título mundial em 2019WSL/Cestari e Poullenot

Leia a entrevista na íntegra

R7 – No ano passado, o Medina foi eliminado na semifinal das Olimpíadas de Paris 2024 por conta da falta de ondas no mar. Por isso, estão cogitando que em Los Angeles 2028 sejam usadas piscinas de onda artificiais, o que você acha dessa mudança?

Ítalo Ferreira – As piscinas têm um ambiente controlado onde você consegue planejar e executar. A competição é sempre em horários pontuais, o que acaba sendo muito positivo para os eventos. Mas também, as competições no mar, quando tem boas ondas, são muito prazerosas de assistir. No oceano, é a natureza que comanda o show, a nossa parte ali é só surfar. Mas as piscinas de onda não podem ser descartadas agora que os projetos estão maiores, as piscinas estão ganhando mais força, melhorando as ondas cada vez mais.

R7 – Você assumiu a liderança do Circuito Mundial de Surfe após a vitória em Abu Dhabi. Quais são suas expectativas para o campeonato de 2025?

Ítalo Ferreira – Comecei a temporada muito bem, fiz o terceiro lugar em Pipe, no Havaí, e o primeiro nas piscinas de Abu Dhabi. Agora vem Portugal, que é uma etapa que tenho boas memórias, já venci duas vezes. Nos últimos três anos, eu fiz bons resultados, mas fiquei devendo por estar muito ansioso e muito confiante, acabei errando. Venho analisando alguns vídeos, de tudo o que vivi no passado e estou ouvindo mais o meu treinador. Pode ser que essa temporada seja totalmente diferente e eu possa voltar a vencer essa etapa.

R7 – Qual foi o sentimento de se tornar o primeiro campeão olímpico da história do surfe?

Ítalo Ferreira – Acho que essa é uma das minhas maiores conquistas no surfe, porque não era possível até então, a gente ter essa chance de cravar o nome no cenário mundial. Mas eu ainda tenho o sonho de vencer novamente, de um dia voltar a subir no pódio com mais uma medalha. E, aí, sim, consagrar-me mais uma vez campeão olímpico.

R7 – Como foi vencer sua primeira prova do Circuito Mundial no Brasil em 2024, em Saquarema, Rio de Janeiro?

Ítalo Ferreira – Saquarema foi incrível porque eu venci na frente do meu pai, que é o cara que me deu todo o ensinamento que eu precisava. Eu queria que ele estivesse presente em um desses momentos. Ele acompanhou toda minha trajetória. Em 2015, quando me acompanhou pela primeira vez, ele ficou doente. Passei a noite inteira com ele no hospital um dia antes de competir na semifinal. Ano passado, ele conseguiu segurar o coração e eu consegui vencer para ele, então, foi algo muito especial.

R7 – O que a conquista do título mundial em 2019 e das Olimpíadas em 2021 mudaram na sua vida?

Ítalo Ferreira – Acho que trouxe mais visibilidade e oportunidades. Depois dessas conquistas eu abri meu instituto, onde eu cuido das crianças, em Baía Formosa [Rio Grande do Norte], minha terra natal. O projeto vem crescendo cada vez mais e isso é muito motivacional para mim. Vejo a evolução dessas crianças, da comunidade local, então, acaba vindo como um pacote completo.

R7 – O que mudou na sua vida quando você decidiu se transformar em um atleta profissional?

Ítalo Ferreira – Consegui realinhar os pensamentos. Saber o meu valor de fato e treinar dobrado. Tenho me dedicado bastante na parte física, tenho me dedicado mais dentro da água também. E entendendo que preciso algumas vezes performar na hora da competição e não antes da competição. Então, acho que isso tem refletido nas baterias que fiz esse ano. Tem sido positivo.

R7 – Existe a história de que quando você começou a surfar, a comunidade em Baía Formosa fez uma vaquinha para comprar sua primeira prancha, você sente que já conseguiu contribuir para a comunidade de alguma forma?

Ítalo Ferreira – Tento fazer o meu melhor colocando o nome de Baía Formosa no topo do mundo. Já vi pessoas, de todos os lugares, indo visitar aquele paraíso porque conheceram por meio das minhas redes sociais. De fato, é um lugar muito bonito.

Surfista, de 30 anos, opta por treinar em piscinas de águas artificiais para 2025Marcelo Maragni/27.02.25

R7 – Quais são suas principais inspirações no esporte?

Ítalo Ferreira – Tem muita gente que serve como espelho para mim, como o Lebron James e o Lewis Hamilton. O Vinícius Júnior também. São caras que se entregam na hora que eles estão ali, fazendo o que ama, e não é diferente do meu esporte. No caso, ele é individual, então, acaba que depende muito mais de mim ali.

R7 – Você fez uma referência ao Ayrton Senna em uma das suas comemorações. Você sente que ele é uma inspiração para você, mesmo você não tendo o assistido correr?

Ítalo Ferreira – O Ayrton foi um atleta muito dedicado, ele se entregou 100% ao que ele amava. Não é diferente do que eu faço hoje, mas em proporções totalmente diferentes. Ele foi um ídolo gigantesco para uma nação inteira e carregou isso por muitos anos. E isso serve de inspiração não só para mim, mas como para outras gerações e as gerações que estão vindo também, para a gente poder continuar se dedicando ao esporte e mostrando que o esporte transforma as vidas.

R7 – Depois de tantas conquistas, quais são seus sonhos?

Ítalo Ferreira – Ter uma piscina de onda só para mim (risos). E uma família linda. É o que eu mais desejo hoje, ter uma família, ter filhos e aproveitar a minha vida de outra maneira também.

Fonte: R7

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