Antônio Pina*
Em tempos em que a presença digital se sobrepõe à presença real, uma iniciativa corajosa e necessária vem mostrando que o convívio presencial ainda tem muito a ensinar. Há seis meses, o Colégio Marista São José – Tijuca adotou uma política de não uso de celulares durante o período escolar. O que parecia, para alguns, uma medida restritiva, hoje se revela como uma verdadeira redescoberta da escola como espaço de trocas, escuta, amizade e aprendizado integral.
O impacto é visível — e mensurável. O aumento de 40% na frequência à biblioteca durante os intervalos não é apenas um dado: é o reflexo de estudantes que voltaram a olhar para os livros com curiosidade e prazer, que passaram a participar de rodas de leitura e a redescobrir o valor do silêncio reflexivo em meio à correria do dia a dia. Da mesma forma, o salto de 68% na ocupação das quadras e do pátio para brincadeiras espontâneas demonstra que, com o celular fora de cena, o corpo também volta a se expressar, se movimentar e se integrar.
Talvez o dado mais simbólico de todos seja o que aponta que 72% dos alunos passaram a conversar mais com os colegas nos intervalos. Em outras palavras, voltaram a se olhar, a rir juntos, a formar laços. Não há algoritmo que substitua esse tipo de conexão. E esse reencontro com o outro — com a presença real do outro — é o que verdadeiramente forma o ser humano.
Os ganhos pedagógicos também são inegáveis. Professores apontam maior atenção e participação nas aulas, menos dispersão e um ambiente mais propício ao aprendizado. Tudo isso reforça a ideia de que a escola precisa ser, acima de tudo, um espaço protegido para o desenvolvimento integral. Isso não significa negar o papel da tecnologia, mas reconhecer que ela deve ter lugar e tempo adequados. E que educar, como lembra o diretor do colégio, é estar próximo, com coração de educador.
A decisão de retirar os celulares do cotidiano escolar não é um retrocesso. É, ao contrário, um avanço rumo à humanização das relações, à valorização da convivência e à formação de jovens mais conscientes e empáticos. Ao abrir mão das telas, mesmo que temporariamente, os alunos ganharam algo muito maior: a oportunidade de se verem, se ouvirem e se conhecerem de verdade.
Mais do que uma política institucional, trata-se de uma escolha pedagógica que reafirma os valores maristas de acolhida, escuta e presença. E, principalmente, trata-se de um exemplo que merece ser observado — e, quem sabe, seguido por outras instituições de ensino.
* Diretor do Colégio Marista São José – Tijuca
Fonte: Hoje em Dia