Marcelle Cardoso Alvim*
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e os vestibulares são as principais portas de entrada para o ensino superior no Brasil. Por isso, é natural que os estudantes dediquem anos de preparação às provas e, especialmente, à redação, uma das etapas mais decisivas.
No entanto, os resultados do Enem 2024 acenderam um sinal de alerta aos educadores, já que apenas 12 participantes alcançaram a nota máxima na redação, de acordo com dados do Ministério da Educação. Em 2023, esse número havia sido de 60, o que representa uma redução de 80%. A queda é significativa e reforça a necessidade de repensar as estratégias de aprendizagem e estudo.
Entre os fatores que podem explicar esse cenário, dois aspectos fundamentais merecem destaque, embora muitas vezes sejam negligenciados durante a preparação: o desenvolvimento de habilidades críticas e criativas.
Essas competências são essenciais para a construção de argumentos sólidos, originais e bem fundamentados, especialmente em provas discursivas e redações. Além disso, elas são importantes aliadas no processo de aprendizagem como um todo, fortalecendo a autonomia, o raciocínio e a capacidade de resolução de problemas, habilidades cada vez mais valorizadas em todas as etapas da vida acadêmica e profissional.
Aprender a pensar: o impacto das habilidades críticas e criativas
Entre as dicas para o vestibular destacam-se as habilidades críticas e criativas, pois favorecem uma aprendizagem mais profunda e significativa, uma vez que permitem aos estudantes conectarem diferentes áreas do conhecimento e desenvolverem uma compreensão integral dos temas.
Em provas discursivas e redações, as habilidades críticas ajudam os estudantes a construir argumentos coerentes e fundamentados, enquanto habilidades criativas podem levar a ideias originais e interessantes. Já na resolução de problemas, essas competências auxiliam os estudantes a analisar questões de diferentes ângulos e a elaborar soluções inovadoras.
Como desenvolver essas competências?
É fundamental adotar práticas que estimulem o desenvolvimento dessas habilidades, não apenas dentro, mas também fora do ambiente de aprendizagem. Atividades como debates, produção textual frequente e projetos interdisciplinares, especialmente os ligados ao empreendedorismo e à resolução de problemas em grupo, são extremamente eficazes nesse processo.
Além das iniciativas escolares, os próprios estudantes podem adotar estratégias complementares. Cultivar o hábito diário da leitura, por exemplo, amplia o repertório, estimula a imaginação e fortalece a capacidade de argumentação. Praticar a escrita criativa, refletir sobre diferentes pontos de vista, participar de discussões em grupo e manter um diário de aprendizagem também são formas eficientes de exercitar essas habilidades. Buscar feedback constante e se permitir experimentar novas formas de expressão são igualmente importantes.
Escolas e família: uma parceria indispensável
O desenvolvimento dessas competências exige uma atuação conjunta entre escola, família e comunidade. Os professores têm um papel fundamental como mediadores do conhecimento, promovendo ambientes que favoreçam a escuta, a experimentação e a valorização da originalidade. Ao incentivar o questionamento e respeitar a individualidade dos estudantes, os educadores fortalecem a autonomia intelectual e o protagonismo estudantil.
As famílias, por sua vez, podem contribuir incentivando a curiosidade, promovendo discussões sobre temas variados e apoiando a leitura e a escrita em casa. Criar um ambiente que valorize a aprendizagem e a expressão de ideias é fundamental para o desenvolvimento dessas habilidades.
Em suma, mais do que dicas para o vestibular, as habilidades críticas e criativas são ferramentas essenciais para a vida universitária e para os desafios do mercado de trabalho. Elas capacitam os indivíduos a pensar de forma autônoma, a colaborar de maneira eficaz e a inovar em diferentes contextos.
Considerando que o mundo está em constante transformação, quem domina essas competências está mais preparado para se destacar, aprender continuamente e contribuir com soluções relevantes para os desafios contemporâneos.
* Coordenadora Pedagógica da unidade de Muriaé da Rede de Colégios Santa Marcelina
“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.
Fonte: Hoje em Dia