Imagem: Envato.
O que antes era considerado uma comodidade eventual ou uma solução de nicho agora se consolida como parte da nova normalidade: 15% dos brasileiros afirmam já realizar compras de supermercado online. A penetração, embora ainda incipiente frente a outros setores do e-commerce, representa um marco importante na digitalização do varejo alimentar – um dos segmentos mais tradicionais e logisticamente desafiadores do comércio brasileiro.
Esse número simboliza mais do que um dado estatístico: ele representa uma mudança profunda na lógica do consumo alimentar, na operação dos varejistas e nas prioridades da cadeia de suprimentos.
Panorama global e posicionamento do Brasil
Para efeito de comparação, em países como China e Reino Unido, a penetração do e-grocery já ultrapassa 20% e 12%, respectivamente, segundo dados da McKinsey e da NielsenIQ. O Brasil, portanto, entra definitivamente nesse radar, com uma curva de crescimento acelerada, mesmo considerando a infraestrutura desigual e os desafios logísticos que caracterizam o território nacional.
Isso também reflete uma maturidade crescente do consumidor brasileiro, que passa a demandar não apenas acesso digital, mas experiências fluidas, entrega rápida e curadoria de produtos, colocando o e-grocery entre os setores mais promissores (e exigentes) do varejo digital nos próximos anos.
Principais motores da transformação
Três pilares sustentam esse movimento de transformação no Brasil:
1. Adoção impulsionada pela pandemia e consolidação do hábito
O ciclo iniciado em 2020 com a pandemia foi o catalisador de muitos testes de compra digital em supermercados. No entanto, diferentemente de outros comportamentos emergenciais que se dissiparam com o retorno da rotina presencial, as compras online de supermercado mantiveram níveis de retenção acima da média. Isso indica que o canal entregou valor real, e não apenas conveniência temporária.
2. Expansão dos modelos logísticos e canais de distribuição
A logística, tradicionalmente um gargalo, começou a se adaptar à nova demanda. O surgimento de centros de microdistribuição, parcerias com apps de entrega rápida (como Rappi, iFood) e investimentos em frotas próprias tornaram possível uma operação mais eficiente, especialmente nas grandes capitais.
3. Digitalização das grandes redes e capilarização via marketplaces
Grandes players do setor, como Carrefour, têm investido pesadamente em operações digitais voltadas para o varejo alimentar. A entrada de marketplaces como Magalu na categoria também ajudou a democratizar o acesso, tanto para consumidores quanto para pequenos e médios varejistas regionais.
Mudança de perfil: quem é o consumidor do supermercado online hoje?
O público que realiza compras de supermercado online não se limita mais às classes A/B ou aos grandes centros urbanos. O avanço da conectividade móvel, o acesso facilitado ao crédito digital e a maturidade dos apps de e-commerce vêm trazendo novos perfis para o jogo.
Segmentos antes resistentes à compra online – como produtos frescos, carnes, itens de limpeza e hortifrúti – vêm ganhando espaço, impulsionados por melhorias nas embalagens, nas políticas de devolução e nos tempos de entrega. Além disso, os dados revelam maior frequência de compras recorrentes, geralmente com ticket médio menor, mas com ciclos semanais ou quinzenais, aproximando a lógica de consumo alimentar da assinatura de serviços, e abrindo caminho para modelos preditivos baseados em comportamento.
Oportunidades estratégicas para o setor
Para executivos de varejo e inovação, o dado de 15% deve ser visto como um ponto de partida, não de chegada. As próximas ondas de crescimento dependerão da capacidade do setor de entregar valor em cinco dimensões principais:
1. Experiência omnichannel integrada: mais do que ter loja física e e-commerce, é preciso oferecer transição fluida entre canais, permitindo compra online com retirada em loja (click & collect), trocas presenciais e fidelização unificada.
2. Eficiência logística: a personalização da entrega por região, bairro ou até perfil de consumo será um diferencial competitivo. Soluções como rotas inteligentes, hubs regionais e entregas em tempo recorde são mais que inovação: são expectativa.
3. Foco em dados e fidelização comportamental: o histórico digital permite prever demandas, sugerir reposições automáticas e construir modelos de fidelização baseados em uso real, e não apenas em acúmulo de pontos.
4. Sortimento adaptável e regionalizado: oferecer uma “prateleira digital” ou vitrine que reflita as particularidades de cada consumidor será essencial para competir com o varejo local.
5. Sustentabilidade e ESG nas entregas e embalagens: o novo consumidor também está atento ao impacto ambiental do e-commerce alimentar. Embalagens sustentáveis, rotas otimizadas e transparência de origem podem pesar tanto quanto preço.
O futuro do supermercado já começou – e ele é híbrido
O dado de que 15% dos brasileiros já fazem suas compras de supermercado online é mais do que estatística. É um alerta. Um chamado à transformação.
A disrupção do setor alimentar está em curso, e não se trata apenas de colocar produtos no app, mas de reimaginar toda a cadeia de valor do consumo alimentar sob uma lente digital, centrada no cliente e ancorada em dados.
As lideranças do varejo precisam assumir esse momento como oportunidade de inovação, e não apenas de adequação operacional. O consumidor brasileiro já começou a mudar seu comportamento. A pergunta que fica é: o seu negócio está pronto para acompanhar?
Fonte: E-Commerce Brasil