*Machado x de Jesus
Vou abrir a caixa de Pandora:
O que é, o que é ?
Cabe em um mapa
E pesa no olho, uma tonelada?
Meus olhos de água,
Assentada sobre um agreste.
É princesa, é sertão
De gente tecelã.
As lagoas guardiã,
Caí em pranto diante de um bairro planejado.
No qual, na planta, não cabe quem sobrevive em situação de rua.
Minha Santinha está entupida com a poeira causada pela máquina imobiliária.
A lagoa do Prato Raso está cheia de lixo,
Narciso acha feio o que não é espelho.
As crianças já não brincam mais nas águas.
Com excesso de desigualdade, a favela cresce a cada dia, incrível.
Esse é o mapa invisível…
Ah, se essa rua fosse minha, seria nossa!
O Terminal Periférico está cheio de navio negreiro moderno em todos os cantos.
É Fêra de Sant’nana!
Tô vendo isso com os olhos de Milton Santos.
20 anos, e nada mudou, neguinhi.
Moço, fique esperto que eu não sou menino.
No país de Machado de Assis,
o motoserra que prevalece.
Sant’Ana, nossa, precisamos de mais Lucas!
Minha catinga é quem tece o amanhã.
Minha olhos d’água,
Jorra de ti os ensinamentos dos meus avós.
Palavras sã
Vós não dais valor.
Não me lembro mais da cor
dos seus olhos, Fêra.
Em ti nasce rios,
Pura beleza.
Feira diz:
“Cadê meu sorriso? Onde ‘tá? É, quem roubou?
Humanidade é má, e até Jesus Chorou”.
Dejitorio era a gente por noíz;
Uma mão lavava a outra.
Sou camelô, sou de mercado informal,
Na moral, sou do sertão e fui expulso da Praça do Nordestino.
Alô, freguês,
Cole aqui no centro de abastecimento.
Deixe meu quilombo, senhorzinho.
Não asfalte ele, não.
Painho precisa se aposentar como trabalhador rural,
Seu sacana!
Quero minha Feira de Santana
Arborizada, sustentada pela sagrada natureza.
Seu progressismo não me engana.
Não deixemos essa urbanização rural afogar nossa roça.
Expusemos esses cambistas!
Agricultura familiar é nossa árvore baobá.
Por que Fêra não molha mais
o mapa múndi?
Mudei a geografia do capitalismo, viva à associação comunitária.
Minha grafologia não alcança sua escrita padrão.
Perdão, meu texto é meu corpo-território,
constituído de ancestralidade.
Diz um candidato:
“Lave o rosto nas águas sagradas da pia,
Nada como um dia após o outro dia”.
“Não sou ninguém, nem tenho pra quem apelar
Só tenho o meu bem que também não é ninguém”.
Coronel, venceu o teu amor!
E o povo?
Fica sem eira e nem beira.
Aí, falô,
Fêra, chorou!