Acostumados a salários mais generosos que a média do País, reconhecimento e fama, jogadores de futebol enfrentam diversas ameaças à construção dos seus patrimônios para o futuro. Golpes, ostentação e desperdícios já marcaram a carreira de vários atletas.
Recentemente uma consultoria de investimentos analisou a contas de um deles e encontrou um grande desperdício. O atleta, cujo nome não foi revelado, tinha a família em outro estado e entrou em acordo com uma pessoa próxima a fim de repassar todo mês cerca de R$ 30 mil, com a promessa de que o valor seria investido na construção de uma casa avaliada em R$ 1 milhão, a ser erguida em terreno de bairro nobre.
Uma auditoria nos extratos bancários encontrou informações de que a mensalidade foi paga durante mais de dois anos. Apesar disso, o jogador não havia assinado contrato com o tal amigo para a prestação do serviço. Toda a operação foi executada na base da conversa, da confiança nos parceiros.
Como o jogador atuava em um clube longe da cidade natal, não chegou a acompanhar a obra. A consultoria contratada pelo atleta passou a desconfiar da situação e decidiu, então, enviar um funcionário até a cidade a fim de verificar o andamento da construção. Não deu outra. Na chegada ao possível empreendimento, não havia casa.
Durante os mais de dois anos de repasses mensais, o terreno tinha somente uma cerca de arame farpado e o início de uma fundação de casa, com vestígios de que a obra estava parada havia meses. O jogador não conseguiu recuperar o prejuízo.
Ostentação
Um jogador que atua no exterior recebeu uma orientação anos atrás para diminuir os gastos no Brasil. O atleta fazia questão de manter na sua cidade natal uma mansão de luxo com vários carros importados na garagem, mesmo sem usar todo esse conforto diariamente, pois vivia em outro continente e só frequentava o local durante um mês por ano, quando estava de férias.
O profissional responsável por avaliar as finanças sugeriu que o jogador abrisse mão de manter tais bens. Pelas contas, o atleta gastaria menos se alugasse uma casa e carros de luxo apenas para o período em que estivesse no Brasil de férias. A justificativa foi de que anualmente a estrutura mantida na cidade representava um gasto muito grande com impostos e manutenção do imóvel.
Apesar da sugestão, o jogador preferiu manter seu modo de vida. Ele entendeu que seria interessante continuar com a casa e com os carros por ser mais cômodo e por eles representarem o símbolo da carreira vitoriosa.
Em outro caso parecido, um jogador que ganhava cerca de R$ 200 mil por mês gastava todo o salário no pagamento das parcelas de três imóveis financiados. Após ser convencido por um amigo a realizar os investimentos, ele decidir procurar ajuda financeira de gestão, pois todos os meses usava o limite do cheque especial e tinha de pagar mais por isso.
O caso mais famoso de atleta que perdeu tudo depois de se aposentar é o do ex-atacante Müller. Ídolo do São Paulo e tetracampeão mundial com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, ele admitiu a situação em 2011, em entrevista ao jornal Marca, em que comentou sobre o arrependimento de não ter se organizado com as finanças quando jogava.
Na época da entrevista, Müller contou que estava sem plano de saúde, carro ou casa para morar. “Errei muito na vida. Tive bons momentos financeiros, mas errei. Fiz muita bobagem. Gastei tudo com besteira, com mulheres e grandes carros”, disse na ocasião. O ex-jogador contou que já comprou mais de 20 veículos. “Gastei com vaidades pessoais. Gastei dinheiro com amigos de ocasião. Por eu ser uma pessoa generosa, muita gente se aproveitou mesmo de mim”, completou.
Em 2011, Müller estava morando de favor na casa do jogador Pavão, antigo colega de São Paulo. Depois do fim da carreira, o ex-atacante trabalhou como treinador, foi pastor de igreja, ficou três anos desempregado e só se recuperou ao retomar a carreira de comentarista esportivo em emissoras de televisão. Outra fonte de renda que tinha era participar como convidado em amistosos e jogos na categoria master.