Lívia Garcia*
A obesidade é hoje reconhecida como uma doença crônica, complexa e multifatorial, que vai muito além de uma simples questão estética ou do excesso de peso. Atualmente a obesidade representa um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil e no mundo, com impacto direto no aumento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, alguns tipos de câncer e mortalidade precoce.
O crescimento da obesidade está fortemente associado às mudanças de estilo de vida nas últimas décadas. O aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e aditivos, aliado à redução da prática de atividade física, configura um ambiente conhecido como obesogênico. Esse cenário favorece escolhas pouco saudáveis e contribui para o aumento progressivo da prevalência de obesidade em todas as faixas etárias.
Além dos fatores comportamentais, a obesidade envolve componentes genéticos, psicológicos, socioeconômicos e culturais, o que reforça a necessidade de uma abordagem ampliada, que vá além do simples “comer menos e se exercitar mais”.
O manejo da obesidade exige um tratamento individualizado e multiprofissional. Médicos, nutricionistas, psicólogos, educadores físicos e outros profissionais de saúde desempenham papéis complementares, garantindo uma abordagem mais efetiva e sustentável.
A base do tratamento continua sendo a mudança do estilo de vida: alimentação equilibrada, com incentivo ao consumo de alimentos in natura e minimamente processados. Prática regular de atividade física, respeitando preferências individuais e limitações de cada paciente. Cuidado com a saúde mental, uma vez que estresse, ansiedade e compulsão alimentar estão frequentemente presentes.
Além disso, um ponto central vivido por pessoas com obesidade é o reconhecimento do estigma e da discriminação vividos por essas pessoas. O preconceito, tanto no ambiente social quanto no sistema de saúde, dificulta a adesão ao tratamento e compromete a qualidade de vida. É essencial adotar uma abordagem empática, com linguagem respeitosa e centrada na pessoa, e não apenas na doença.
Nenhum tratamento será suficiente sem ações de prevenção. Políticas públicas que regulem a oferta e a publicidade de alimentos ultraprocessados, incentivem a educação alimentar e criem condições para a prática de atividade física são indispensáveis para reverter esse cenário. A atenção deve começar cedo, na infância e adolescência, prevenindo a progressão da obesidade para a vida adulta.
A obesidade é uma doença que precisa ser enfrentada com seriedade, empatia e estratégias abrangentes. O caminho passa pelo incentivo a mudanças no estilo de vida, pela atuação integrada de uma equipe multidisciplinar, pela redução do consumo de ultraprocessados e pelo fortalecimento de políticas públicas de saúde e educação alimentar.
Mais do que um problema individual, a obesidade é um reflexo do ambiente em que vivemos. E somente com ações conjuntas — envolvendo pacientes, profissionais de saúde e sociedade — será possível mudar esse cenário e promover uma vida mais saudável para todos.
*Nutricionista especialista em emagrecimento e nutrição esportiva
“Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jornal Hoje em Dia”.
Fonte: Hoje em Dia