Comércio da Avenida Sete Crédito: Arisson Marinho/CORREIO
A Bahia está entre os cinco estados do país em que há mais trabalhadores informais do que formais. Dos 6,5 milhões de trabalhadores, 3,4 milhões atuam sem carteira assinada ou registro no CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) – o equivalente a 51,5% da força de trabalho em situação de informalidade no estado.
Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e se referem ao terceiro trimestre de 2025. No ranking nacional de informalidade, a Bahia fica atrás apenas do Maranhão, Pará, Piauí e Amazonas.
O IBGE não dispõe de informações sobre as áreas com mais trabalhadores informais, mas, com base em análises anteriores do instituto, Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE, cita algumas profissões com alta informalidade: construção civil – que na Pnad contempla desde a pessoa que está na grande construtora até aquela que trabalha como pedreiro ou como encanador –, comércio e áreas de serviços, principalmente os mais prestados às famílias, como hospedagem e alimentação, e a agropecuária.
Essa alta incidência, segundo a supervisora, está relacionada à precarização do mercado de trabalho, cuja relação é diretamente proporcional ao desemprego.
“Você tem um exército de pessoas procurando trabalho, um ‘exército de reserva’, como se chamava antigamente, e muitos empregadores sentem que é viável ter essas contratações informais, que muitas vezes são mais precárias, ou seja, pode ter uma rotatividade maior sem incorrer em tantos custos indenizatórios e trabalhistas. É uma forma mais ‘barata’ de contratar. Não existe uma fiscalização de trabalho informal, porque não é ilegal. Acaba sendo uma forma de contratação mais barata e que muitas vezes para os empregadores viabiliza que aquele negócio dê mais lucros, com mão de obra que geralmente é menos qualificada”, diz Mariana Viveiros.
Dos trabalhadores informais, 83% são pessoas pardas ou pretas, seis em cada dez são homens e quatro em cada dez têm entre 40 e 59 anos de idade. É nesse grupo que está Wallace Carvalho, de 47 anos. Morador de Ribeira do Pombal, no semiárido baiano, ele comanda há 20 anos um lava rápido na cidade, sem registro. Entre os motivos da escolha, estão o fato de atuar numa cidade menor e também porque os únicos clientes que exigem CNPJ são as empresas, para ter as notas fiscais.
“Quando você fecha um contrato com uma empresa, você tem que ter um dia exclusivo só para lavar os carros dela, coisa que pra mim não é vantagem. Eu já tenho a minha clientela formada e não tenho esse tempo. (O registro) é bom para quem quer trabalhar só para empresas, mas mesmo assim é muito raro achar uma que te pague corretamente no fim do mês”, diz. Nessas duas décadas, vem mantendo uma rotina consistente. Acorda às 5h, às 6h30 já está no trabalho e volta para casa entre 17h30 e 18h, a depender do movimento.
Apesar do índice alto, o número de trabalhadores informais na Bahia vem demonstrando uma queda discreta desde o primeiro trimestre deste ano. Nos primeiros meses, eram 52,5%, que caíram para 52,3% no segundo trimestre e agora estão em 51,5%.
Desde o início da série histórica, em 2016, a porcentagem de trabalhadores informais na Bahia quase sempre está acima de 50%. As únicas exceções foram os anos de pandemia. “Não é uma coisa de agora, é uma característica até estrutural, eu diria, da força de trabalho baiana, do mercado de trabalho baiano e de alguns outros estados que também têm informalidade alta, principalmente no Norte e no Nordeste do país”, afirma Mariana Viveiros.
Precarização
Para o economista Marcelo Ferreira, a informalidade no mercado de trabalho tem dois aspectos. Um é a estrutura econômica do estado, que, segundo ele, ainda é insuficiente para atender todas as necessidades da população.
Outro aspecto são as novas relações de trabalho, que apontam para uma tendência de desburocratização como uma maneira de tornar as relações mais fluidas.
“Isso não necessariamente é bom, considerando que nós estamos num patamar econômico insuficiente ainda. Então, talvez não estejamos preparados aqui na Bahia para assimilar essas novas formas de relação de trabalho. Mas, ainda assim, eu acredito que a informalização do trabalho é algo que talvez aumente, mas em função, como eu disse, de uma produtividade que não é aquela desejada, um nível de industrialização que é um setor de transformação e consequentemente abre outras oportunidades”, avalia.
Fonte: Jornal Correio









